A criação de um departamento de inovação se tornou importante ao passo em que a inovação bem-sucedida desempenha cada vez mais um papel importante para as organizações em sua busca pela competitividade internacional, crescimento sustentável e sobrevivência a longo prazo.
No entanto, a sua construção é multifacetada. Além do fenômeno em si, do processo de inovação ou dos instrumentos de gestão, um foco especial recai sobre a organização da inovação, particularmente as pessoas que a impulsionam na empresa.
Um papel importante para o sucesso da inovação é creditado aos chamados inovadores, mais precisamente falando aos promotores e defensores da inovação. Os promotores são indivíduos que assumem voluntariamente o papel de apoiar e promover a inovação ativamente e intensivamente.
Assim, um desafio chave para as empresas inovadoras é a identificação, desenvolvimento e vinculação futura de inovadores, porque o sucesso final e a sobrevivência dessas instituições dependem de sua capacidade de atrair, selecionar e manter indivíduos criativos.
O início da era das inovações
Nas últimas décadas, a inovação tem sido gradualmente reconhecida como um dos principais pilares da competitividade das empresas. Apesar disso, as inúmeras contribuições no campo da gestão da inovação são bastante disseminadas.
Ao logo dos anos, estudos sobre ambidestria organizacional expandiram essa discussão em muitas perspectivas sem, no entanto, convergir para caminhos claros pelos quais as organizações se tornariam mais inovadoras regularmente.
Além disso, a gestão da inovação é complexa, apresenta fortes características interdisciplinares e permeia diversas atividades funcionais. Assim, a adoção de fórmulas tradicionais como altos investimentos em P&D ou mesmo as melhores práticas de organizações marcadamente inovadoras não são garantias de sucesso.
Essas perspectivas reforçam a necessidade de ampliar o debate sobre o estabelecimento de um modelo sistêmico, que possa ser integrado à rotina das empresas e assuma a inovação como missão central, não dependente de orçamentos especiais ou da vontade de pessoas específicas.
Pesquisadores do Rensselaer Polytechnic Institute (RPI) realizaram um estudo longitudinal em 12 grandes corporações, todas imersas no esforço de sistematização da inovação.
Eles concluíram que a inovação evoluiu ao longo do tempo para se tornar uma nova função organizacional nessas empresas – a Função Inovação (FI). Para eles, uma função organizacional é definida pela existência de uma equipe reconhecida e identificável que detém – e é medida por – uma missão específica dessa organização.
História da inovação
A inovação é definida como a exploração de novas ideias com sucesso. No contexto das organizações industriais, isso inclui novas tecnologias ou aplicações tecnológicas, melhores produtos e serviços, novos processos produtivos ou ainda processos mais eficientes e novos modelos de negócios.
A compreensão da inovação como um processo molda a forma como as empresas a vivenciam e a gerenciam. Alguns modelos clássicos de processos de inovação são amplamente considerados na prática de gestão da inovação – por exemplo, Stage Gate, funil de inovação ou modelo de Inovação Aberta (Chesbrough, 2003).
Os campos que contribuíram para os estudos de inovação ao longo das últimas décadas são muitos, confirmando a atual diversidade de perspectivas em torno do tema.
Dentre os subcampos propostos por Martin (2012) para organizar o escopo dos estudos sobre inovação, dois são centrais para o tema deste artigo: “gestão” (que inclui gestão de P&D, desenvolvimento de novos produtos, gestão de tecnologia e inovação, empreendedorismo, gestão do conhecimento, e partes da gestão estratégica).
E também “estudos organizacionais” (que inclui inovação organizacional, grande parte da visão da empresa baseada em recursos – competências essenciais, capacidades dinâmicas, capacidade de absorção – e algumas contribuições sobre a aprendizagem organizacional).
Inovação dentro das organizações
Uma gestão da inovação eficaz exige um melhor entendimento das estruturas organizacionais e dos comportamentos gerenciais que melhor se adéquam às contingências do negócio. Além da adoção de um processo de gestão, uma empresa que visa inovar regularmente, deve projetar um sistema. Segundo Skarzynski & Gibson (2008):
“[…] se aspirantes a inovadores só podem ter sucesso em uma organização apesar do sistema – se eles têm que lutar heroicamente através de um campo minado para impulsionar suas ideias – então, por definição, a inovação não é uma capacidade sistêmica naquela organização, nem é um valor central profundamente enraizado na cultura corporativa.”
Há a necessidade de abordagens de gestão empresarial que apoiem o processo de inovação. No entanto, na maioria das organizações, a inovação é forçada a se desconectar do resto da empresa e muitas vezes assume a forma de departamentos isolados de P&D ou NPD, Skunk Works ou divisões específicas para novos negócios.
Entretanto, há inúmeros fatores que demonstram as vantagens da escolha de uma pessoa ou um grupo para ser responsável pela inovação em empresas estabelecidas. Podemos analisar os seguintes pontos:
(1) a capacitação organizacional não é simples, principalmente quando confrontada com processos orientados para a eficiência operacional;
(2) o acúmulo de experiências exige consistência e continuidade das pessoas envolvidas;
(3) a existência de um grupo responsável pela ocorrência da inovação motiva toda a empresa a refletir sobre o real andamento dessas atividades e as possíveis reconfigurações necessárias para melhorá-las;
(4) é necessário desenvolver competências adequadas para inovar radicalmente.
Departamento de Inovação: O surgimento
Gina Colarelli O’Connor (2012) define “função organizacional” como a existência de uma equipe identificável que tem a responsabilidade de liderar uma missão específica da empresa.
Há algumas décadas, as empresas não possuíam departamentos de marketing, nem tal função estava bem definida nas organizações. No entanto, o marketing tornou-se uma função sofisticada, incorporando diferentes processos para atender a diferentes mandatos.
Como implicação, a função de inovação deve ter sua própria liderança, métricas, vocabulário, planos de carreira e poder permanente nas organizações.
Criar uma equipe dedicada para focar em inovação é um fenômeno crescente em organizações globais, que investem em oportunidades de crescimento orgânico, em vez de adquirir empresas ou investir em start-ups.
Algumas empresas automotivas desenvolveram capacidades para inovação, concentrando-se nos esforços de equipes dedicadas na gestão de um portfólio de inovação e na construção de capacidades para inovação.
Já os hospitais alemães encontraram uma relação positiva entre a atividade de inovação e a existência de um departamento de inovação. A organização interna é considerada uma alavanca muito poderosa para trazer resultados inovadores, que, inversamente, evocam uma necessidade contínua de adaptação organizacional.
O estabelecimento de uma nova função, em maior ou menor grau, necessariamente provoca mudanças em outras funções dentro da organização.
Portanto, para melhor adaptação entre as áreas é necessário analisar três pontos:
a) a correta divisão do trabalho;
b) constituição de uma equipe dedicada à inovação – determinando novas relações de trabalho e;
c) mitigação de conflitos, onde a legitimação dos esforços de inovação por meio do apoio direto da alta administração desempenha um papel especial.
Ao consolidar a inovação como função permanente da organização deve-se ter como principais tarefas: estimular a geração de ideias; envolver a liderança sênior no esclarecimento da estratégia; projetos financiados por seed capital; apoiar equipes de projetos de inovação; escanear o ambiente externo para capturar tendências; investir em pequenas empresas; interagir com outras funções organizacionais; ajudar a desenvolver a governança sobre os esforços de inovação, apoiar a tomada de decisões e facilitar as revisões de portfólio e; monitorar a capacidade de inovação.
O propósito do departamento de Inovação
As funções do departamento de inovação e P&D podem conviver de três maneiras diferentes:
(1) A função da inovação pode estar sob P&D se fizer parte de uma estrutura do tipo R, D&E e prestar suporte direto a essa instância;
(2) O departamento de inovação pode ser superior a P&D quando contém P&D, nutrindo decisões sobre portfólio e recursos.
(3) Inovação e P&D podem operar em paralelo um com o outro. O foco está em realizar ações de cultura de inovação, desenvolvimento de novos negócios, mudanças organizacionais, etc. A configuração do departamento tem impacto nas suas relações com outras funções organizacionais.
Assim, quando a função de inovação faz parte do P&D, seus principais relacionamentos são com as equipes de projeto; inversamente, quando o este contém P&D, suas atribuições são mais amplas, bem como suas interfaces com outras funções organizacionais além de P&D, como Recursos Humanos, Vendas, Marketing, etc.
Na terceira configuração, a função de inovação também possui interfaces com outras funções organizacionais, mas esses relacionamentos tendem a ser mais fracos e menos influentes do que na segunda configuração.
A equipe de inovadores
Normalmente, poucas pessoas trabalham no núcleo do departamento de inovação, essa equipe central é a maior responsável pela execução das atribuições do departamento.
No entanto, três outras instâncias organizacionais o complementam:
(1) comitês estratégicos (formulam diretrizes para a inovação),
(2) pontos focais (pessoas formalmente alocadas em outras partes da organização que funcionam como extensões locais e facilitam comunicação horizontal)
(3) equipes de projeto (estruturas temporárias para conduzir projetos de inovação).
As especialidades de Engenharia, Design, Negócios, Gestão e Economia são as licenciaturas mais comuns entre as pessoas que integram a equipe principal. No entanto, experiências anteriores diversificadas, criatividade, iniciativa, propensão a arriscar, entre outras, são tão ou mais valorizadas que a educação formal.
Na perspectiva da atração de talentos, há quatro elementos principais: (a) a possibilidade de uma boa carreira no departamento de inovação; (b) a afinidade pessoal com a inovação; (c) fuga, quando a função de inovação aparece como opção (e é receptivo a) pessoas com carreira bloqueada; e (d) alavancagem inicial de carreira, quando o trabalho no departamento promove a exposição a outras áreas devido à intensa interação horizontal.
Departamento de Inovação: Conclusão
O departamento pode fortalecer o foco na difusão da cultura de inovação em toda a empresa, ampliando a perspectiva tradicional de inovação de produto/processo.
Alguns estudos indicam que as empresas devem abandonar gradativamente métodos e/ou tarefas sistematizadas em outras áreas, voltando sua atenção apenas para captar novas tendências. No entanto, essa visão é contrabalançada por outra que teme a perda de sinergia e a possibilidade de voltar às “velhas” formas de lidar com a inovação.
Como dito, o objetivo geral do departamento é catalisar a ocorrência de inovações nas organizações. Para isso, compreende um conjunto de especialidades para interagir com o resto da organização.
No entanto, é necessário notar que a constituição de uma função organizacional dedicada à inovação não pode ser afirmada como a única forma pela qual as empresas buscam a inovação sistemática.
Apesar disso, a constituição do departamento de inovação é uma alternativa importante e empiricamente sustenta para integrar esforços para sistematizar a inovação nas organizações.
Por fim, ao invés de apenas implantar a estratégia da empresa, a inovação pode gradualmente se transformar em um agente chave da estratégia. Além disso, desenvolve cada vez mais competência para lidar com projetos de alto risco/incerteza.
Uma definição do departamento de inovação que resume as várias perspectivas: pequenas diretorias com alta influência no pensamento estratégico e grande interação com outras áreas no que diz respeito à dinâmica de inovação de toda a empresa.
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Assim como na área da qualidade, o departamento de inovação por si só não garante a entrega dos objetivos, pois depende do engajamento de outras áreas em programas de ideias, condução de provas de conceito e desfechos em investimentos.
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