Você provavelmente já ouviu falar sobre programas de aceleração de startups, mas sabe o significado real do termo e se são ideais para você?
A criação de startups envolve alto risco, no qual os empreendedores buscam a construção de novos negócios, que em ambientes com condições de extrema incerteza, em um mundo cada vez mais volátil e complexo, no qual os mercados, em grande parte das vezes, ainda precisam ser desenvolvidos.
Essas características também representam oportunidade para que empreendedores, que desejam criar organizações escaláveis e prósperas, desenvolvam soluções reais para desafios de negócios e dores latentes da sociedade.
Para apoiar os empreendedores nesse desafio, tradicionalmente vêm sendo criados programas de aceleração. Fornecendo aos empreendedores uma série de recursos que visam aumentar as chances de sobrevivência de uma startup, ao mesmo tempo, em que buscam mitigar os riscos envolvidos, que são inerentes ao ambiente de inovação.
O que é um programa de aceleração?
As aceleradoras são definidas como organizações privadas, com fins lucrativos e com um modelo de negócios claro.
Os aceleradores de inovação são entidades empresariais que fazem investimentos iniciais em empresas promissoras em troca de capital (equity).
As startups participam de um programa de prazo fixo baseado em coorte/cohort, que inclui elementos de orientação e componentes educacionais, culminando em um evento público de apresentação ou dia de demonstração ao final do ciclo.
Os programas de aceleração estão posicionados entre outros programas de apoio a startups em termos de seu modelo de negócios (buscar retorno financeiro com base no crescimento e saída da startup) e estágio em que os fundadores são aceitos no programa (inicialização ou estágio inicial).
Aceleradoras x Incubadoras: Quais são as diferenças?
As incubadoras, por outro lado, costumam estar associadas a um modelo de negócio mais semelhante a uma relação locatário/prestador de serviço com as startups.
São definidas tipicamente como organizações sem fins lucrativos, frequentemente associadas a universidades, que fornecem espaço de escritório a preços razoáveis para as startups apoiadas.
Geralmente buscam startups locais e, por característica, não investem capital nas empresas. Um breve resumo dessas principais diferenças com o modelo de aceleração é apresentado na imagem a seguir:
Outra perspectiva sobre como diferenciar esses programas é categorizando-os de acordo com o modelo de negócio utilizado (growth-driven, fee-driven ou independente) e o estágio da jornada empreendedora em que melhor apoia os empreendedores. Um resumo desta tipologia é apresentado no gráfico a seguir:
O surgimento dos aceleradores
Os ecossistemas de inovação se desenvolveram de forma intensa durante a última década, o que proporcionou às startups múltiplas oportunidades de fomento para o crescimento.
Dentro desse ambiente, os programas de aceleração desempenham um papel bastante importante, pois ajudam as startups a superarem os obstáculos mais comuns entre empresas early-stage, e ganharem tração por meio de profundo envolvimento de mentores com experiência de mercado, ciclos de iteração rápidos e preparação para captação de recursos.
Esses programas oferecem assistência de forma sistemática e profissional, não apenas envolvendo recursos tangíveis, como capital ou espaços para a criação de escritórios, mas também oferecendo know-how, orientação e feedback de empreendedores experientes, business angels, coaches e executivos corporativos (Hochberg, 2016).
Em uma fase de negócios de profunda incerteza, os empreendedores podem até mudar os seus modelos de negócios durante as fases.
A ascensão dos programas de aceleração
Durante os últimos anos, as histórias de sucesso de empresas conhecidas que participaram de aceleradoras (por exemplo, Airbnb e Dropbox) ampliaram o interesse por esses programas, especialmente de empresas estabelecidas.
Por conta disso, não é surpreendente que as corporações tenham começado a oferecer seus próprios programas de aceleração. Empresas renomadas, incluindo Bayer e Telefonica, adotaram a ideia e lançaram programas em todo o mundo.
Aceleradoras corporativas são programas patrocinados ou administrados diretamente por uma ou mais empresas estabelecidas.
Um exemplo é o Health me Up, programa de aceleração para healthtechs (startups na área da saúde), operado pela Quiker e realizado por grandes empresas do setor como Unimed Rio Preto, Braile Biomédica, Shift, Grupo Cene e Ultra-X Medicina Diagnóstica.
Estudos recentes mostraram que as aceleradoras corporativas permitem que as empresas façam contato com startups inovadoras, suas tecnologias e suas mentalidades empreendedoras, construindo assim uma interface entre os dois mundos.
No caso do Health me Up, por exemplo, o programa foi estruturado selecionando 6 temas reais para a formulação de desafios de negócios que seriam utilizados como critérios-base do processo seletivo. Como resultado prático, 85% das startups participantes do processo seletivo iniciaram o desenvolvimento de provas de conceito (POCs) com as empresas realizadoras.
Aceleradores corporativos complementam outros modelos de engajamento de startups corporativas, que vão desde eventos de um dia (por exemplo, hackathons) até alianças de P&D, relacionamentos comprador-fornecedor, e investimentos ou aquisições de capital de risco corporativo.
Como os programas de aceleração funcionam
Como ponto de partida, a maioria dos programas de aceleração são altamente competitivos e, para garantir um nível mínimo de qualidade dos lotes iniciais aceitos, é comum emular o processo de inscrição normalmente encontrado em cursos de pós-graduação.
Na imagem a seguir há um resumo das principais etapas de um ciclo típico de aceleração (da conscientização dos fundadores à “graduação” da startup).
Esse ciclo de aceleração é comumente chamado zero to hero. Começa com a etapa das ideias, em seguida testes da aplicação online, logo o programa é criado. E então chega o dia do demo day, de fazer o pitch para apresentar o produto e conectar com investidores. Por fim, chega a parte que a startup continuará sozinha com o produto criado durante o programa.
Considerando que os programas de aceleração variam significativamente em escopo e profundidade em todo o mundo, cinco componentes importantes podem ser destacados: (1) foco estratégico, (2) pacote do programa, (3) financiamento, (4) processo de seleção e ( 5) serviços de ex-alunos. Este modelo operacional está resumido no quadro a seguir:
1. Foco estratégico
Os Aceleradores se diferenciam de outros programas de apoio a startups em:
- objetivos: privados e com fins lucrativos, apoiados por investidores que são normalmente privados, financiamento público ou grandes empresas;
- foco: pode variar de genérico (sem foco na indústria) a específico (especialização em uma indústria/vertical ou tecnologia);
- geografia: variando de programas locais (executando em apenas um local, como Y Combinator no Vale do Silício) ou em vários locais (executando “franquias” em paralelo, como o programa Techstars).
2. Pacote de programas
Os componentes educacionais e de rede social são pilares de todos os programas de aceleração, utilizados como vantagem competitiva para atrair e reter as melhores startups e fundadores. O “pacote de aceleração” normalmente inclui:
- Duração limitada (normalmente 3 meses), exigindo foco total da atenção do fundador para construir um produto mínimo viável (MVP) em torno de uma ideia de negócio.
- Um “currículo” ou “programa educacional” pelo qual todas as startups aceitas passam. Semelhante aos cursos business school, isso pode abranger uma ampla gama de tópicos, desde finanças, marketing, logística até aspectos jurídicos e de RH, entre outros.
- Um programa de eventos, workshops de especialistas e palestras inspiradoras (aliás, o Y Combinator organiza jantares semanais, convidando empresários proeminentes do Vale do Silício para falar e usando isso como marcos informais de conquistas para os fundadores).
- Mentoria estruturada, geralmente na forma de “horário de expediente” semanal. Quando diretores de aceleradores e mentores do programa (profissionais experientes, empreendedores e investidores) se encontram periodicamente com os fundadores para fornecer orientação, oportunidades de networking e criar confiança mútua com as partes interessadas que potencialmente poderiam tornar-se investidores e consultores de estágio posterior.
- Co-localização em um espaço de escritório aberto compartilhado, promovendo oportunidades peer-to-peer para aprender e colaborar, enquanto estimula informalmente a “pressão dos pares” para garantir qualidade e gerenciamento de tempo durante a construção do MVP.
- Dia do investidor ou dia de demonstração (demo day), que é o principal marco de todos os programas de aceleração e normalmente marca a “graduação” de uma startup para o mercado. Nessas ocasiões, potenciais investidores e clientes são convidados a participar de uma reunião de um dia inteiro onde ouvirão e avaliarão os pitches de startups, com apresentações de um MVP e suas estratégias de crescimento e organizacionais.
3. Financiamento
As aceleradoras são geralmente financiadas (obtendo capital de giro para investir em startups) por acionistas como investidores privados (anjos, venture capital), grandes empresas e autoridades públicas (ou seja, universidades ou agências regionais de desenvolvimento econômico).
Diferentemente do que acontece nas empresas de capital de risco, as aceleradoras não cobram “taxas de administração” dos investidores. Entretanto, elas esperam obter retornos significativos quando as startups do portfólio crescem e buscam investimentos de acompanhamento ou uma saída como um IPO ou aquisição. As startups geralmente recebem um pequeno investimento inicial em troca de uma participação acionária para o acelerador.
Embora esse financiamento inicial não seja suficiente para escalar uma startup típica de alto crescimento, ele visa garantir o foco dos fundadores durante os 3 meses em que fazem parte do programa de aceleração construindo um MVP.
Após o dia de demonstração, a maioria das startups graduadas receberá investimentos de acompanhamento, que foram pré-comprometidos ou garantidos em rodadas de investimento subsequentes com novos investidores.
4. Processo e critérios de seleção
A típica startup acelerada é formada por equipes mais promissoras que visam construir empreendimentos de alto crescimento. Na verdade, os principais aceleradores (como Y Combinator e Techstars) normalmente têm uma taxa de aceitação de 3% ou menos em cada lote de coorte.
Como resultado, ele impõe um processo de admissão altamente seletivo geralmente organizado com: (I) uma inscrição on-line, (II) uma revisão executiva ou da equipe principal, (III) uma entrevista inicial com os candidatos pré-selecionados e (IV) uma última entrevista presencial.
Durante esse processo, espera-se que as equipes apresentem suas ideias iniciais de negócios e, mais importante, se apresentem como fundadoras. Este último aspecto é considerado o componente mais importante do processo de seleção, pois espera-se que durante o programa a ideia de negócio inicial possa mudar, exigindo que os fundadores com espírito empreendedor sejam flexíveis o suficiente para aceitar o feedback e pivotar o conceito de negócio.
5. Serviço de ex-alunos
Ao lado do componente de mentoria durante o programa, as startups “graduadas” constituem um aspecto importante no processo de aceleração, pois ampliam os recursos e as redes acessadas pelas equipes aceleradas.
Por exemplo, em programas maiores (como o Y Combinator), a rede de ex-alunos é usada ativamente por startups para testar seus MVPs em cenários reais de clientes, obter suporte no recrutamento de novos membros fundadores ou acessar tecnologias complementares que aumentarão sua vantagem competitiva no curto prazo.
Uma classificação de modelos de aceleradores corporativos
De acordo com Hochberg (2016), existem quatro diferentes modelos de aceleradores corporativos: acelerador interno, acelerador híbrido, provedor de aceleração e acelerador de consórcio.
Acelerador Interno
O acelerador interno refere-se a programas que as empresas criam e operam internamente. Os incumbentes com aceleradores internos geralmente procuram explorar o conhecimento e a inovação de startups externas.
O objetivo dessa abordagem é conhecer startups como parceiras externas de inovação para resolver problemas internos ou oportunidades de crescimento.
Além de sua colaboração de inovação aberta com startups, algumas empresas esperam efeitos positivos para sua marca através de seu programa de aceleração.
A empresa farmacêutica Bayer, por exemplo, organiza encontros mundiais para várias partes interessadas por meio de suas atividades de aceleração, que devem ter um impacto positivo em sua imagem e em sua atratividade como empregadora.
Acelerador híbrido
Alguns modelos que buscam startups externas complementam seus lotes com projetos internos de inovação executados por funcionários corporativos.
Ao fazê-lo, este segundo modelo de acelerador combina uma abordagem de fora para dentro com uma abordagem de intraempreendedorismo. Consequentemente, esses programas são chamados de aceleradores híbridos e considerados uma extensão do acelerador interno.
As empresas que seguem essa abordagem híbrida compartilham os mesmos objetivos que as empresas que usam o modelo de acelerador interno, mas ao mesmo tempo, visam desenvolver e impulsionar ideias internas promissoras.
Tratar um projeto interno de inovação como uma startup acelera seu desenvolvimento. Startups externas e equipes de projeto internas são apoiadas no programa acelerador, permitindo que elas troquem ideias e aprendam umas com as outras. Notavelmente, o caráter híbrido deste programa acelerador não é comunicado a startups externas antes do início do programa.
Provedor de Aceleração
O provedor de aceleração é um modelo de acelerador corporativo muito utilizado em países de língua alemã, e bem conhecido globalmente, mas relativamente raro. Um acelerador independente gerencia esse modelo em nome de uma única organização corporativa.
As empresas que visam investir principalmente em startups usam aceleradores. Eles usam esse modelo para avaliar as startups em um estágio muito inicial, o que lhes permite tomar uma decisão de investimento muito antes do possível, com uma unidade de empreendimento corporativo tradicional.
No entanto, como muitas empresas não possuem experiência no campo de conhecimento de startups e na construção e suporte de startups. Por conta disso, elas colaboram com um provedor de acelerador externo que oferece assistência profissional na construção e profissionalização de startups.
Aceleradora de consórcio
O acelerador de consórcio é um provedor de acelerador externo que oferece seus serviços a várias organizações corporativas. Um exemplo é a aceleradora Startup Autobahn em Stuttgart na Alemanha, que se concentra em startups de mobilidade. Este consórcio foi formado por várias empresas respeitáveis, incluindo Daimler, ZF e BASF, e é organizado pelo provedor de aceleradores do Vale do Silício Plug and Play.
A Startup Autobahn oferece às empresas dois serviços principais: agrega atividades para profissionalizar a startup (por exemplo, oferecendo workshops sobre como montar um plano de negócios) e estabelece uma relação entre o incumbente e a startup, muitas vezes sob a forma de um projeto-piloto conjunto. As empresas participantes procuram obter acesso a inovações externas, bem como apresentar uma imagem mais inovadora.
Programas de Inovação da Quik
Na Quiker nós desenvolvemos programas de aceleração de startups e inovação aberta white label no formato de ciclos, com o objetivo de mapear startups e executar projetos com alto potencial para solucionarem desafios reais de corporações em seus mercados. Entenda como podemos ajudar a sua organização por meio de programas de inovação sob demanda aqui.
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